Do horizonte mágico da baía vazadas foram as lágrimas de dores que inundavam-me entre as madrugadas e os lindos pôr-do-sol das tardes de Verão, embriagando-me de melancolias sorvidos de cálices de pensamentos de um passado solitário, no pacto de entender a dor como um mal necessário para moldar a bravura das ondas do meu Índico cerebral;
Adeus a todas mulheres, mulheres artistas que pelas manhãs avançam firmes com o pincel da enxada para o artelier da terra produzindo obras de verduras, vegetais, legumes, cereais, tubérculos apreciadas pelos coleccionadores estomacais em museus da vida, onde curadores de exposições agrícolas aparecem com exuberantes técnicas de coloração verde;
Adeus Inhambane, adeus a todos homens e mulheres artistas...que esculpem obras de arte e cultura, de ciência, de política, de religião expostas nos olhos e nas mentes de qualquer apaixonado apreciador ou coleccionador;
Adeus homens que pelas manhãs, meio-dia e pelas tardes trepam coqueiros no carinho de carícias no sobe-desce em busca de obras de sura que enaltecem a nossa cultura nas adegas de convivios social;
Adeus Inhambane, adeus a todos curandeiros da minha terra que pelas tardes de pôr-do-sol ou pelas madrugadas esculpem obras de diálogos com os mortos, na mediação/criação de conflitos com os vivos em acordos de ku-phahla e de missas onde galinhas típicas, cabritos, ovelhas...são sacrificados, e seu sangue desce quentinho às cavernas espirituais para debelar a fome dos mortos. Adeus!
Adeus poetas e escritores da baía que saciam mentes de qualquer povo com pratos de obras que marcam o tempo e o lugar da nossa identidade..., com tempêros que percorrem a melancolia da inocência das mulheres idosas, viúvas, solteiras... que vestem capulanas de feiticeiras de próprios filhos para não falar de netos e até vizinhos ou qualquer outro familiar, na batucada da saga da terceira idade! Salute a essas dígnas obras de arte esculpidas nas oficinas de desumanização!!!
Adeus Inhambane; adeus o silêncio; adeus a tranquilidade; adeus a hospitalidade; adeus a humildade; adeus as lindas praias; adeus a diversidade cultural e; adeus Inhambane, minha, vossa e nossa província; minha, vossa e nossa cidade que vezes clama de uma melhor arte urbanizadora entre os bairros em expansão esculpidos de ruas apertadas e tortas se bem que existem!
Adeus Inhambane, especialmente aos coveiros muito mal bem remunerados e tratados pelos empregadores e pela sociedade, que mais que ninguém, são eles os construtores de palácios onde repousam os nossos mortos. Esses mortos que meia volta estão connoscos nas festas de reconciliação. A vós coveiros que vos cabe a arte da coragem e de humilhação vai o meu obrigado pela inspiração. Esperem ainda mais o meu agradecimento quando o sino da minha badalada zombar pela madrugada ou pelo pôr-do-sol... Porque afinal de contas morrer é esta arte de divagar na vida, somando dias menos dias até que a força de renúncia da contagem atinge-nos, e a máquina calculadora fica com os outros que também vão passando para outras mãos;
Embora ainda não tenha subido-te ao palco para declamar-te a poesia da nossa nascença, da governação política, da governação divina, da governação de nossos espíritos ou da morte, da governação social e cultural, isso não importa. O importante é dizer-te que adeus Inhambane, amo-te e vou contigo no coração, pois tu inspiraste-me grandemente na aventura pelo mundo amador das letras...
Até mais!
Joaquim Chau
Inhambane, Agosto de 2011
Com os barcos a tagarelarem no artelier artístico das águas no vaivém de uma margem para a outra, aprendi a contemplar o sofrimento e a coragem das mulheres que em todas as madrugadas debaixo da escuridão, da chuva ou do frio atravessam o horizonte do vazio empunhadas de canhões de pesca nas mãos, da enxada no ombro, de qualquer material na cabeça e de enxertos da humanidade no colo em busca da arte para florar as larreiras da vida;
Com o inocente sol vermelho a despedir-se da melancolia dos rostos indecisos do outro dia ao encontro de corpos moribundos vagueando no duplo escuro de noites sonâmbulas, aprendi a enxergar lágrimas de dores de crianças que saiem de um ventre, e meia-volta não têm ventres externos, abrigos, educação e saúde condignos...obrigadas a transformarem-se em qualquer profissional – que os sem escrúpulos exploram-nas em troca de nada senão ainda mais miséria que sequer no mínimo enchem-lhas as panças! Oh, crianças, criaturas do santo Deus cadê a omnipotência do senhor para salvar-vos? O sofrimento aperta-vos nos mercados, nas paragens, nas praças públicas onde vós crianças estendem os braços abraçados de caixas de qualquer produto em troca do centavo que a Dona Titia espera lá em casa. E o vosso salário é um centavo de meia colher de restos de comida, comida anoitecida, ou uma simples refeição de rale temperado com caldo calado de uma alimentação condígna! Adeus!!!
Adeus Inhambane, adeus mulheres da baía - mulheres artistas que nos arteliers de rochas, do mar entre berros das ondas pintam obras de ostras, ameijoas, caranguejo, camarão, peixe e entre outras beldades artísticas que enchem as montras dos estômagos em museus de alimentação;
Adeus a todas mulheres, mulheres artistas que pelas manhãs avançam firmes com o pincel da enxada para o artelier da terra produzindo obras de verduras, vegetais, legumes, cereais, tubérculos apreciadas pelos coleccionadores estomacais em museus da vida, onde curadores de exposições agrícolas aparecem com exuberantes técnicas de coloração verde;
Adeus Inhambane, adeus a todos homens e mulheres artistas...que esculpem obras de arte e cultura, de ciência, de política, de religião expostas nos olhos e nas mentes de qualquer apaixonado apreciador ou coleccionador;
Adeus homens que pelas manhãs, meio-dia e pelas tardes trepam coqueiros no carinho de carícias no sobe-desce em busca de obras de sura que enaltecem a nossa cultura nas adegas de convivios social;
Até mais!
Joaquim Chau
Inhambane, Agosto de 2011